Brasil: de agrícola a urbano (1900- 1964)
- Pietro Pizão
- 25 de out. de 2016
- 5 min de leitura
Imagens valem mais do que mil palavras. Já ouviu essa? Clássica. As imagens são as formas mais simples de se passar uma mensagem para alguém. E como o texto envolve história, usarei imagens para mostrar do que falo. Por exemplo, a imagem abaixo:

Você imagina de onde se trata? Parecem lugares diferentes? Épocas diferentes? Como são as construções destes lugares? O que temos nestas cenas? Como as pessoas se vestem? O que temos de diferente entre uma imagem e outra?
E se eu dissesse que se trata do mesmo lugar: Avenida Paulista em São Paulo? Sim. É a famosa Avenida Paulista fotografada em diferentes datas, à esquerda temos ela em 1968, e à direita em 1930. Essas duas fotos retiradas do Acervo do Estadão representam o que quero tratar: Industrialização. Por que ela é importante? É o nível de industrialização que nos mostrará a capacidade de um país de gerar emprego e tecnologia, de forçar a organização da mão de obra em sindicatos e de exigir fornecimento de energia e infraestrutura básica. Se um país não é industrializado, quais as chances dele não ter infraestrutura básica? Centros urbanos estruturados? Gerar inovações? Por muito tempo, o Brasil nem sequer sonhava com indústrias e hoje sentimos esses efeitos.
Da República Velha até o fim da Era Vargas
Desde o Brasil Colônia até a República Velha, a palavra de ordem era: campo. Nossas principais atividades econômicas vinham do campo... a maior parte da nossa população estava no campo... e junto com ela a maioria dos postos de trabalho eram do campo. Até mesmo nossas cidades (alguns historiadores dizem) copiavam o campo! Dentro das casas das pessoas mais afortunadas (digo, ricas), a maioria dos bens que elas tinham eram importados (alimentos, lâmpadas, automóveis, algumas roupas...). Pouquíssimos itens domésticos eram produzidos nacionalmente. Se era assim dentro das casas dos mais ricos, imagine nas dos mais pobres! Muitos alimentos eram tidos como artigos de luxo, como os enlatados. A alimentação média brasileira não era arroz, feijão e carne. IMAGINA! Carne era coisa de "ryko"! Comia-se farofa e mandioca no lugar da carne. A alimentação não era das melhores. Além disso, muitos artigos de vestuário eram importados! Como você pode perceber, quem mais sofria com essa história toda eram os mais pobres. É claro que isso não iria mudar de uma hora para outra. Levaríamos mais tempo, algumas décadas para que o Brasil transformasse sua paisagem para uma mais próxima da que temos hoje: Brasil mais urbano, com atividades econômicas mais diversificadas, e com um conjunto de bens importados bem mais limitado (Sonho um dia com uma Ferrari de produção nacional a preços mais acessíveis...).
Mas onde iríamos virar o jogo então? A partir de que momento o Brasil iria tomar outros rumos? Em 1929. Sim, ele mesmo! O crash da bolsa de 1929. Mas como ele iria chegar ao Brasil e mudar a organização da sociedade? O Brasil até então dependia das exportações de café para fazer girar sua economia. Ele até tinha algumas indústrias têxteis, mas eram poucas, pequenas e vinculadas ao setor cafeeiro, pois seus proprietários eram também cafeicultores. Se a crise fez com que diversos países entrassem em crise, muitos deles deixaram de comprar nosso café. O Brasil sentiu um tremendo baque. Fatores como a repressão no meio rural e a disparidade entre o grande e o pequeno produtor somado com a precarização das condições de trabalho no campo devido à crise, impulsionaram o processo de êxodo rural. Milhares de pessoas se dirigiram para grandes centros urbanos em busca de uma vida melhor causando um excesso de mão de obra nestes locais. Pode-se ver isso no gráfico abaixo de Taxa de Urbanização por ano.

A taxa de urbanização é calculada pela razão entre a população urbana sobre a população total de um país.
Taxa de urbanização. Fonte: Elaboração própria. Base de dados IBGE.
Como numa equação matemática, temos:
Excesso de mão de obra nas cidades+ Cenário internacional precário para importações=
Processo de Substituição de Importações.
E o que seria isso? Foi um processo involuntário e não planejado do governo onde ele acabou estimulando a formação dos nossos primeiros parques industriais que iriam começar a substituir os produtos importados no país. Mas quem iria abrir indústrias para produzir em plena crise? O Brasil não tinha nem infraestrutura para suportar grandes indústrias! Quem investiria nisso? Cafeicultores estavam falidos e o sistema de crédito bancário era muito precário para um empreendedor surgir do nada. O Estado então toma as rédeas da situação abrindo suas estatais mais icônicas: a Petrobrás e a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e diversas hidrelétricas pelo país. Além disso, dá espaço para inúmeros multinacionais se instalarem no país, como foi o caso da indústria de alimentos (Sabe salsicha, leite em pó e enlatados? Pois é, eles são produzidos nos país desde essa época). Esse processo vai até a década de 1950 sem se completar totalmente para todos os bens. Muitas das indústrias brasileiras pré existentes que necessitavam de diversos maquinários e elementos para produzir ainda não tinham conseguido similares nacionais, e os automóveis ainda tinham que ser importados, o que mostra que o Brasil até meados da década de 1950 ainda dependia fortemente do setor externo para sua indústria produzir.

Do Plano de metas até 1964
Quando Juscelino Kubitschek é eleito em 1956 ele inicia um dos projetos mais ambiciosos já realizados no país. O Plano de Metas foi responsável por trazer diversas empresas além de enormes investimentos em infraestrutura como em rodovias e na construção de Brasília. A indústria automobilística chega nesta época, se instalando em grandes cidades como no ABC paulista gerando diversos postos de trabalho e um processo urbanizador intensificado. Muitos produtos mais valiosos (denominados como “bens de consumo durável”) passaram a ser produzidos em território nacional. A nacionalização da produção de automóveis é um exemplo dos frutos do governo JK de incentivo à indústria. Mas a produção nacionalizada foi parcial. Como? Pense da seguinte maneira: Na fabricação de um carro, por exemplo, temos diversos componentes, desde motor e radiador até seus pneus e para brisas. A fabricação deste item será em território nacional. Entretanto, suas peças não necessariamente. Todas as novas tecnologias- que estão ali nas pequenas peças envolvidas na produção de um carro- não serão geradas no Brasil, mas sim importadas de outros países para que aqui seja finalizado o bem durável: o automóvel. É aqui que vemos que no Brasil temos montadoras e não fabricantes de fato.
Os grandes gastos feitos por JK para modernizar o parque industrial, ampliá-lo e garantir seu suporte com grandes obras de infraestrutura durante seu governo gerou grande desconforto na economia brasileira. Naquela época, não tínhamos muito bem desenvolvido o mercado de títulos públicos e os impostos não supriam as vazões de gastos que o governo promovia. Financiávamos nossos gastos basicamente pela emissão de moeda. Imprimir papel e chamar de moeda sem que a economia esteja produzindo o mesmo proporcionalmente significa falar "Olha gente, minha moeda não vale nada e não tem moral nenhuma!", ou seja, é uma provocação para a inflação chegar. Um presentinho para Jânio Quadros, seu sucessor, "segurar a bucha inflacionária" em seu mandato a partir de 1961, o que lhe custaria sua governabilidade, fazendo-o renunciar e colocar Jango no lugar, que sofreria o golpe de 1964 logo em seguida.
Durante o regime militar teríamos um outro andamento para industrialização do país. Coisa para outro texto porque este já está enorme! Ufa~
A seguir, um resuminho cronológico do que coloquei aqui:

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